domingo, 29 de julho de 2012
Um jazz triste
A sala está vazia. A casa está vazia.
Só se ouve o barulho dos carros passando lá fora.
Agora o som dos sapatos de salto,batendo quase sem força no chão de madeira velha do seu velho apartamento.
Aqueles passos firmes,já não existem mais. Aquela jovem decidida e forte, já não existe mais. O corpo de mulher no auge dos seus vinte e tantos anos, continua o mesmo; os longos cabelos negros que caiam feito cascata sobre os ombros largos, agora milimétricamente cortados num channel impecável, modelam um rosto agora pálido. O rosto que um dia foi cheio de vida,de sorrisos largos, de olhos muito pretos e brilhantes que sorriam mais do que a boca rosada. Esses olhos que agora só servem para que lágrimas amargas transbordem deles, pousam na janela do velho apartamento.
"Tá chovendo!"
De fora, se observa a silhueta de uma mulher magra,de postura majestosa,porém infeliz,vazia.
A sala está vazia. A casa está vazia.
Agora, só um gato canta uma canção com seu miado pesaroso,quase fúnebre. Ela passa os dedos sobre o piano empoeirado e arranha um lá dasafinado.
Vazia.
Sozinha.
Sobre o piano, pontas de cigarro e uma garrafa de uísque barato já pela metade.
Chega de silêncio! E o cansado e esquecido vinil gira numa cantilena triste e serena...ao mesmo tempo sombria. E ela volta para a mesma janela,olha para baixo, aperta os olhos para tentar enxergar até o fim da rua...e não vê nada além de um dia cinza,pessoas cinzas,pessoas e cinzas...
"É...tá chovendo"...
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